terça-feira, 24 de abril de 2012

Paulo Freire é declarado patrono da educação brasileira

O educador e filósofo pernambucano Paulo Freire (1921-1997) passa a ser reconhecido como patrono da educação brasileira. É o que estabelece a Lei nº 12.612, do dia 13 de abril de 2012. Freire dedicou grande parte de sua vida à alfabetização e à educação da população pobre. Reconhecido internacionalmente, Freire recebeu inúmeros títulos , entre eles, Doutor Honoris Causa, em 6/12/1994, pela UFRRJ.

Oriundo de uma família de classe média, Freire conviveu com a pobreza e a fome na infância, durante a depressão de 1929. A experiência o ajudou a pensar nos pobres e o levou, mais tarde, a elaborar seu revolucionário método de ensino. Em 1943, chegou à Faculdade de Direito da Universidade de Recife, hoje Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Durante o curso, teve contato com conteúdos de filosofia da educação. Ao optar por lecionar língua portuguesa, deixou de lado a profissão de advogado. Em 1946, assumiu a direção do Departamento de Educação e Cultura do Serviço Social de Pernambuco, onde passou a trabalhar com pobres analfabetos.

Em 1961, como diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade de Recife, montou uma equipe para alfabetizar 300 cortadores de cana em 45 dias. As experiências bem-sucedidas com alfabetização foram reconhecidas em 1964 pelo governo de João Goulart, que aprovou a multiplicação das experiências no Plano Nacional de Alfabetização. No entanto, poucos meses após a implantação, o plano foi vetado pelos militares, que assumiram o governo. Freire foi preso e expulso do país. Em 16 anos de exílio, passou por Chile, Suíça, Estados Unidos e Inglaterra e difundiu sua metodologia de ensino em países africanos de colonização portuguesa, como Guiné-Bissau e Cabo Verde.

Em sua obra mais conhecida, A Pedagogia do Oprimido, o educador propõe um novo modelo de ensino, com uma dinâmica menos vertical entre professores e alunos e a sociedade na qual se inserem. O livro foi traduzido em mais de 40 idiomas.

Visão - Para a diretora de currículos e educação integral do Ministério da Educação, Jaqueline Moll, o Brasil presta uma homenagem a Paulo Freire por sua obra pela educação brasileira. "Paulo Freire é a figura de maior destaque na educação brasileira contemporânea, pelo olhar novo que ele constrói sobre o processo educativo", afirma. "Ele tem ajudado muitos países no mundo a repensar a visão vertical que temos nas salas de aula, de um professor que sabe tudo e do estudante que é uma tábula rasa e nada sabe."

"Uma homenagem mais que justa", comemora Leocádia Inês Schoeffen, secretária municipal de Educação de São Leopoldo (RS), cidade a 50 km de Porto Alegre. Todas as 35 escolas públicas do município já aderiram ao Programa Mais Educação, que amplia a jornada diária para o mínimo de sete horas. "O Mais Educação, do ponto de vista da educação popular, não é restrito ao ambiente escolar, mas articula-se com a comunidade. Assim, há afinidade grande desse programa com o que o Paulo Freire defendia, que é fazer a leitura do mundo e a inserção do educando no seu meio, capacitando-o para que seja agente do seu momento histórico", diz.

Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) foi educador e filósofo. Considerado um dos principais pensadores da história da pedagogia mundial, influenciou o movimento chamado pedagogia crítica. Sua prática didática fundamentava-se na crença de que o estudante assimilaria o objeto de análise fazendo ele próprio o caminho, e não seguindo um já previamente construído.

Freire ganhou 41 títulos de doutor honoris causa de universidades como Harvard, Cambridge e Oxford. Foi preso em 1964, exilou-se depois no Chile e percorreu diversos países, sempre levando seu modelo de alfabetização, antes de retornar ao Brasil em 1979, após a publicação da Lei da Anistia

No portal Domínio Público, do MEC, pode-se baixar gratuitamente o livro Paulo Freire, de Celso de Rui Beisiegel, uma coletânea de análises de seus textos mais importantes.

A Lei nº 12.612, de 13 de abril de 2012 foi publicada no Diário Oficial da União (DOU), na última segunda-feira, (16), Seção 1 página 1.

Diego Rocha

Ouça os comentários da diretora de currículos e educação integral do MEC, Jaqueline Moll, sobre o educador Paulo Freire.

Fonte: MEC

domingo, 22 de abril de 2012

23 de Abril – Dia Internacional do Livro

O Dia Internacional do Livro e dos Direitos Autorais, 23 de abril, é comemorado para estimular a reflexão sobre a leitura, a indústria de livros e a propriedade intelectual (direito sobre a criação de obras científicas, artísticas e literárias). 

A data foi instituída em 1995, pela Unesco – organização voltada para a Educação, Ciência e Cultura, que integra as Organização das Nações Unidas. A escolha do Dia do Livro não foi aleatória: em 23 de abril de 1616 faleceram Cervantes e Shakespeare, dois destaques da literatura universal.

O Dia do Livro é, portanto, uma oportunidade de render uma homenagem mundial ao livro e aos seus autores, motivar a descoberta do prazer da leitura e reconhecer a contribuição dos escritores para o progresso social e cultural. A ideia dessa celebração surgiu na Catalunha (Espanha), onde, nessa data, tradicionalmente, dá-se uma rosa ao comprador de um livro.


terça-feira, 17 de abril de 2012

Como traçar um rumo para uma carreira bem-sucedida em pesquisa


Ser um pesquisador hoje é um pouco de dicotomia. Por um lado,  os pesquisadores agora têm acesso mais fácil e mais rápido  a uma quantidade nunca vista de informações de todo o mundo,  por meio de ferramentas como as bases de dados SciVerse Scopus e SciVerse ScienceDirect, da Elsevier. A tecnologia global de comunicações permite a colaboração nos níveis individual,  nacional e internacional como nunca antes aconteceu, o que facilita o processo de pesquisa como um todo, desde as etapas de financiamento, até a descoberta e a publicação. Por outro lado, eles trabalham no ambiente de pesquisa mais competitivo já conhecido. As solicitações de financiamento aumentam, as oportunidades de concessão de recursos diminuem e os organismos de fomento estão cada vez mais exigentes em torno de seus requisitos e dos resultados esperados. A dicotomia é que os pesquisadores têm acesso melhor, mais amplo e mais rápido a mais informações e à tecnologia do que em qualquer outro momento da história, mas os fundos necessários para aproveitar esses recursos e preencher plenamente a promessa das pesquisas são reduzidos e cada vez mais difíceis. Leia mais: http://www.biggerbrains.com/sites/default/files/pdf/career_planing_guide_br_pt-br.pdf


Fonte: JOHNSON, Alan M. Como traçar um rumo para uma carreira bem-sucedida em pesquisa: um guia para pesquisadores em início de carreira. Disponível em: http://www.biggerbrains.com/sites/default/files/pdf/career_planing_guide_br_pt-br.pdf

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Aldeia de pixels e papel

Discípulo de McLuhan, físico canadense diz que cérebro humano precisa do impresso. Parceiro de Marshall McLuhan, físico, linguista, e especialista em comunicação, Robert K. Logan está no Rio para lançar seu mais recente livro, “Que é informação?” (Contraponto/Editora PUC, tradução de Adriana Braga), e para uma série de aulas e conferências em universidades e escolas. Quase meio século depois de seu mestre elaborar o conceito de aldeia global e a ideia de que o meio é a mensagem, O GLOBO conversou com Logan sobre este tempo em que vivemos imersos em nuvens de dados. Ele prega a ideia de que o cérebro humano é viciado em tinta e papel e fala da criação do smartbook, dispositivo que alia o impresso ao virtual.
O senhor diz que o cérebro humano é dependente de tinta e papel e que a inteligência, o estudo e o aprendizado não sobrevivem sem o impresso. Essa afirmação se baseia em quê? 


ROBERT K. LOGAN: Em estudos neurofisiológicos que comparam a leitura de textos em papel com a leitura numa tela eletronicamente configurada. No texto em papel ela é restrita ao hemisfério esquerdo, que interpreta a linguagem. Já a leitura na tela, por melhor que seja a resolução, envolve, antes, o lado direito, necessário para montar o mosaico de pixels que forma a imagem de cada letra, e, depois, o lado esquerdo, num vaivém: um lado converte pixels em letras, outro transforma letras em palavras e frases. A quantidade de tráfego através do corpo caloso é enorme e dificulta a concentração e a imersão, além de tornar a leitura mais cansativa. Não é à toa que escritores que escrevem em computador preferem imprimir e ler no papel na hora de fazer a revisão.


É só isso, então? A coisa se resume a um fator neurofisiológico? 

Não, isso é um só aspecto. Outro é que a tecnologia do livro encadernado, até hoje, é a única que permite um manuseio sem o emperramento imposto pela rolagem.


Mas o senhor é um entusiasta da internet e até a saúda como uma nova linguagem. Explique o paradoxo. 

Não há paradoxo. O que defendo é uma experiência conjugada no uso da internet e do papel. Por exemplo, imprimir textos e hiperlinks mais relevantes é uma prática seletiva útil, que permite que se atinjam com mais eficiência os objetivos. Ao mesmo tempo, estou participando da criação de um conceito: o dos smartbooks. É um livro impresso que contém um código que, inserido na rede, abre portas para sua cópia digital, links associados exclusivos e listas de referências.


Sério? E as bobagens, distorções, exacerbações que se encontram na Wikipedia? 

Ora, o que não falta na Britânica são bobagens. Essa coisa de a Britânica ser o centro referencial cosmológico da cultura era um mito. Por exemplo, não existia na Britânica um verbete sobre mim e sobre meu trabalho. Na Wikipedia há uma entrada espontânea! (Risos)


O leitor médio hoje é capaz de contextualizar? 

Sim, claro. O hiperlink permite isso. Desde que ele tenha discernimento e uma educação à altura.


Mas o problema não estaria aí? O leitor atual, dividido entre várias fontes, consegue se educar? 

A educação é um assunto à parte. E o que precisa haver, como eu disse, é uma boa correlação entre o impresso e o digital. Estamos numa época em que essa ideia apressada do fim do livro impresso está em transição. Ela foi criada por aqueles que acharam que aconteceria com os livros o que aconteceu com os CDs. Ora, não perceberam que a cognição auditiva é bem diferente da experiência da leitura, que exige um vínculo muito maior com o suporte, o objeto.


Muitos estudiosos previram que o poder ficaria concentrado nas mãos de quem fosse o dono da informação. Quem são, hoje, esses donos? 

Hoje, todos são donos da informação, e aquele funil de editores deixou de privar milhões de pessoas de se expressarem, muitas vezes coletivamente. Os provedores, é claro, lucram com isso e têm acesso a toda a informação, mas este é um outro aspecto da discussão.


Em seu livro o senhor trata do conceito de informação como se fosse um organismo que se replica por meio das linguagens e da cultura da mesma maneira pela qual as estruturas moleculares orgânicas propagam seus padrões de organização. Para além da esfera acadêmica, como o público percebe o conceito de informação? 

Não percebe. O público, com exceção da academia, é como um peixe na água: ele não capta conceito de fundo, ele apenas recebe, processa, transforma, recria e transmite a informação através de seus vários meios, sempre influenciado, cognitivamente, pelas características dos mesmos e pelo ambiente, adicionando significados que estão para além da previsibilidade e que pertencem ao domínio da incerteza. O que contraria completamente a noção que tem predominado, derivada das ideias de Shannon, de que informação é apenas transmissão direta e passiva de signos arbitrários por um receptor.


Isso significa que a informação é orgânica? 

Não, ao contrário do que sonham os próceres da inteligência artificial e da realidade virtual: sem a interação com o ambiente não se produz vida humana. A vida está nos processos biológicos, e a mente é um estágio que resulta da soma do cérebro com a linguagem. O que esta soma produz é uma instância puramente conceitual, simbólica, que é transmitida como um organismo vivo apenas em sua dinâmica, por meio de padrões de replicação imateriais.


Apesar de afirmar essa especificidade do homem enquanto produtor de significados, na sua teoria, o senhor se refere aos indivíduos por meio de palavras como instinto, cérebro, mente, moléculas, organização, emergência, processo. Mas vocábulos como amor, emoção e sentimento estão ausentes das 250 páginas. Por quê? 

Estão mesmo ausentes? Tem certeza? Bom... não sei, na verdade isso me surpreende. Não posso sequer explicar. Estou chocado. Vou ter que pensar sobre isso e já me vem uma série de palpites sobre como conectar o conceito de informação ao de amor. Você me deu uma excelente ideia para uma próxima edição do livro, ou um novo estudo... 

* Esta entrevista foi publicada no vespertino para tablet “O Globo a Mais”